O MOVIMENTO E AS
ORGANIZAÇÕES DE CARÁTER OPERÁRIO
O
movimento dos trabalhadores urbanos foi, em quase todos os países, resultante
do aparecimento de indústrias, ou seja, de transferência do trabalho da área
artesanal, quase sempre de âmbito familiar ou de grupos organizados, (...),
para as fábricas, com o domínio e posse dos instrumentos de produção por um
nascente capitalismo.
No
Brasil, não poderia ser diferente. O sistema escravocrata, sustentado pelo
Império, retardaria imensamente não só o aparecimento das exportações
industriais entre nós como das próprias organizações operárias de caráter mais
combativo.
Um
relatório lido (por Rosendo dos Santos, Secretário Geral) no II Congresso
Operário Nacional (1913, no Rio de Janeiro), traz uma lúcida interpretação
desse fenômeno. Assim, menciona aquele humilde relator que a organização
operária no Brasil muito deve, assim, às ideias anarquistas introduzidas,
sobretudo por imigrantes europeus, espanhóis, portugueses e, por último,
italianos. Como essa organização é decorrência de desenvolvimento industrial,
não há que se pretender pudesse Pernambuco ter uma participação maior nesse
assunto, provado que a sua indústria urbana era muito débil no princípio do
século (XX). Cabe, porém, ao sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande (do
Sul) – não só a iniciativa como a liderança dos primeiros movimentos naquele
sentido. E ao Distrito Federal,(...), também dos primeiros Congressos
Operários, embora muitas vezes dividisse com o Estado do Rio as “démarches”
para esses encontros.
De
qualquer forma, só a partir da presença em Pernambuco do sindicalista e líder
operário José Elias, natural de nosso estado, mas radicado no Rio, é que
começou realmente uma fase de organização e a formação de diversas associações,
com uma política de resistência e de reivindicações de caráter econômico, cujas
diretivas eram originárias dos I e II Congresso Operário, de 1906 e 1913, mas
cujos ecos somente nos atingiram, de forma efetiva, através da ação consciente
daquele extraordinário homem que foi, sem dúvida, uma das grandes figuras
saídas da massa operária para a luta em favor dos seus humildes companheiros.
O
II Congresso Operário aprovou resolução com o intuito de dar maior
desenvolvimento às organizações nos estados. E, nele, Pernambuco não contou com
um só representante. Creio ter sido esse fato que fez a Confederação Operária
Nacional enviar ao Recife o líder sindicalista, e já notável orador de massas,
José Elias.
Cristiano
Cordeiro,(...), assim se refere à viagem do líder sindicalista:(...) “Apresentando-me
como um estudante interessado, acompanhei todos os passos de José Elias.
Assisti, pois, com essa credencial, à transformação das antigas “uniões e
sociedades de beneficência” em sindicatos, em órgãos de luta pela conquista dos
novos “direitos do homem trabalhador”.
“A
União dos Estivadores foi a primeira. Cito, com reverência, o nome de Eufrosino
Carneiro, justamente acatado entre os seus camaradas. Seguiram-se os Sindicatos
de Armazéns, Trapiches e Cargas (“Resistência”), Carvoeiros, Construção Civil,
os da Vanguarda. (...) Criada a Federação das Classes Trabalhadoras, a ela se
associaram, sucessivamente, outros sindicatos: Tecelões, Metalúrgicos,Padeiros,
Marceneiros, Gráficos, Transportes Urbanos, Ferroviários, etc.
Já
então acreditado como militante voluntário, tomei parte na elaboração dos
estatutos de várias dessas entidades”
Autor:
Barros, Souza
Livro:
A Década de 20 em Pernambuco.
Editora:
Fundação de Cultura Cidade do Recife-PCR
Local:
Recife.
Ano:
1985, páginas: 75,76,77 e 78.
Biblioteca
Estadual: Coleção Pernambucana.
Vocabulário:
Trabalho artesanal: trabalho manual feito com ferramentas,
nele o artesão faz todas as etapas do processo produtivo, utilizando matérias
primas naturais.
Capitalismo: o capitalismo é um sistema no qual a
força de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como
objeto de troca. Para o capitalismo existir é preciso que a propriedade esteja
concentrada nas mãos de uma classe social (a burguesia), e que haja uma outra
classe que venda a sua força de trabalho, para sobreviver (os operários).
Ideias anarquistas: defendem que a sociedade não precisa
ter um governo, isto é, uma instituição que exerça o poder sobre todos. Anarquia
vem do grego anarkei (que significa, sem governo). Anarquia não tem relação com
baderna ou bagunça, em uma sociedade anarquista as pessoas seriam tão
organizadas e éticas que iriam ao trabalho ou á escola, cumpririam com suas
obrigações sem precisar de uma instituição que lhes obrigasse a fazer coisa
alguma. Características do anarquismo (segundo Pierre J. Proudhon): o fim do Estado,a organização da sociedade em pequenos grupos sob o regime de autogestão, isto é, as pessoas que formam o grupo criam as suas próprias leis, estabelecimento de uma sociedade sem classes (formada por pessoas livres e iguais), fim das forças armadas e da polícia, eliminação das leis gerais e dos tribunais de justiça, eliminação de todos os partidos políticos.
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