segunda-feira, 2 de abril de 2018


O MOVIMENTO E AS ORGANIZAÇÕES DE CARÁTER OPERÁRIO

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O movimento dos trabalhadores urbanos foi, em quase todos os países, resultante do aparecimento de indústrias, ou seja, de transferência do trabalho da área artesanal, quase sempre de âmbito familiar ou de grupos organizados, (...), para as fábricas, com o domínio e posse dos instrumentos de produção por um nascente capitalismo.
No Brasil, não poderia ser diferente. O sistema escravocrata, sustentado pelo Império, retardaria imensamente não só o aparecimento das exportações industriais entre nós como das próprias organizações operárias de caráter mais combativo.
Um relatório lido (por Rosendo dos Santos, Secretário Geral) no II Congresso Operário Nacional (1913, no Rio de Janeiro), traz uma lúcida interpretação desse fenômeno. Assim, menciona aquele humilde relator que a organização operária no Brasil muito deve, assim, às ideias anarquistas introduzidas, sobretudo por imigrantes europeus, espanhóis, portugueses e, por último, italianos. Como essa organização é decorrência de desenvolvimento industrial, não há que se pretender pudesse Pernambuco ter uma participação maior nesse assunto, provado que a sua indústria urbana era muito débil no princípio do século (XX). Cabe, porém, ao sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande (do Sul) – não só a iniciativa como a liderança dos primeiros movimentos naquele sentido. E ao Distrito Federal,(...), também dos primeiros Congressos Operários, embora muitas vezes dividisse com o Estado do Rio as “démarches” para esses encontros.
De qualquer forma, só a partir da presença em Pernambuco do sindicalista e líder operário José Elias, natural de nosso estado, mas radicado no Rio, é que começou realmente uma fase de organização e a formação de diversas associações, com uma política de resistência e de reivindicações de caráter econômico, cujas diretivas eram originárias dos I e II Congresso Operário, de 1906 e 1913, mas cujos ecos somente nos atingiram, de forma efetiva, através da ação consciente daquele extraordinário homem que foi, sem dúvida, uma das grandes figuras saídas da massa operária para a luta em favor dos seus humildes companheiros.
O II Congresso Operário aprovou resolução com o intuito de dar maior desenvolvimento às organizações nos estados. E, nele, Pernambuco não contou com um só representante. Creio ter sido esse fato que fez a Confederação Operária Nacional enviar ao Recife o líder sindicalista, e já notável orador de massas, José Elias.
Cristiano Cordeiro,(...), assim se refere à viagem do líder sindicalista:(...) “Apresentando-me como um estudante interessado, acompanhei todos os passos de José Elias. Assisti, pois, com essa credencial, à transformação das antigas “uniões e sociedades de beneficência” em sindicatos, em órgãos de luta pela conquista dos novos “direitos do homem trabalhador”.
“A União dos Estivadores foi a primeira. Cito, com reverência, o nome de Eufrosino Carneiro, justamente acatado entre os seus camaradas. Seguiram-se os Sindicatos de Armazéns, Trapiches e Cargas (“Resistência”), Carvoeiros, Construção Civil, os da Vanguarda. (...) Criada a Federação das Classes Trabalhadoras, a ela se associaram, sucessivamente, outros sindicatos: Tecelões, Metalúrgicos,Padeiros, Marceneiros, Gráficos, Transportes Urbanos, Ferroviários, etc.
Já então acreditado como militante voluntário, tomei parte na elaboração dos estatutos de várias dessas entidades”

Autor: Barros, Souza
Livro: A Década de 20 em Pernambuco.
Editora: Fundação de Cultura Cidade do Recife-PCR
Local: Recife.
Ano: 1985, páginas: 75,76,77 e 78.
Biblioteca Estadual: Coleção Pernambucana.

Vocabulário:

Trabalho artesanal: trabalho manual feito com ferramentas, nele o artesão faz todas as etapas do processo produtivo, utilizando matérias primas naturais.
Capitalismo: o capitalismo é um sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como objeto de troca. Para o capitalismo existir é preciso que a propriedade esteja concentrada nas mãos de uma classe social (a burguesia), e que haja uma outra classe que venda a sua força de trabalho, para sobreviver (os operários).
Ideias anarquistas: defendem que a sociedade não precisa ter um governo, isto é, uma instituição que exerça o poder sobre todos. Anarquia vem do grego anarkei (que significa, sem governo). Anarquia não tem relação com baderna ou bagunça, em uma sociedade anarquista as pessoas seriam tão organizadas e éticas que iriam ao trabalho ou á escola, cumpririam com suas obrigações sem precisar de uma instituição que lhes obrigasse a fazer coisa alguma. Características do anarquismo (segundo Pierre J. Proudhon): o fim do Estado,a organização da sociedade em pequenos grupos sob o regime de autogestão, isto é, as pessoas que formam o grupo criam as suas próprias leis, estabelecimento de uma sociedade sem classes (formada por pessoas livres e iguais), fim das forças armadas e da polícia, eliminação das leis gerais e dos tribunais de justiça, eliminação de todos os partidos políticos.




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