segunda-feira, 7 de maio de 2018

ANTECEDENTES DO MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR DO RECIFE

Segundo Letícia R. Barbosa, os movimentos populares antes do golpe de 1964 tiveram as suas bases no populismo vindo de Getúlio Vargas. Ela também afirma que, na década de 1950 havia um desejo de avanço social, como resultado da ação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), que era uma instituição nacionalista criada no governo de Jucelino Kubitschek, ligada ao Ministério da Cultura.
Em Pernambuco, os governos não vinham dando prioridade aos problemas educacionais. No governo de Barbosa Lima,1928,preocupado com a qualidade de ensino, ele estadualizou todo o sistema educacional, as prefeituras foram obrigadas a repassar todas as escolas para o estado - foi assim que a prefeitura do Recife, mesmo tendo a melhor rede escolar municipal (criada em 1894), transferiu-a para o estado e deixou de cuidar da educação. Por isso, Anita Paes Barreto, ao assumir a direção do ensino, no governo Arraes, identificou a situação calamitosa em que estava a população recifense em idade escolar (7-14 anos), pois 50% das crianças estava fora da escola.
Em 1939, o Recife tinha 500 mil habitantes, dos quais 164.837 viviam em mocambos. Boa parte dessa população era o resultado do êxodo rural, que trouxe pessoas do campo ( do sertão á zona da mata), para tentar uma vida melhor na cidade. A Liga Social Contra os Mocambos objetivava retirar essa população dos centros urbanos e colocá-las em vilas operárias. Mas o governo de Agamenon destruiu 13.355 mocambos e construiu apenas 59 vilas e 20 grupos residenciais, que atendeu a apenas 30% da população removida dos centros urbanos como medida de modernização, na prática essa remoção foi uma medida de higienização. Esses abandonados pelo governo de Agamenon tiveram que ocupar os morros, os córregos e encostas, lugares impróprios para moradia, mas o governo aristocrata queria modernizar a cidade, torná-la mais bela, se pobres iriam morrer soterrados pelas barreiras, perderiam seus poucos bens nas enchentes: isso não tinha a menor importância. O poder entendia a sua intervenção como geradora de desenvolvimento. Mas será que quando uma ação do poder executivo, usando dinheiro que é da sociedade, beneficia apenas aos que detém poder econômico, isso é de fato desenvolvimento? A população pobre rejeitada e empurrada para as periferias, que teve de construir moradias precárias em locais insalubres - e foi dessa forma  condenada à morte durante as estações das chuvas do Recife, acreditava que "Deus quis assim", sem perceber que a sua condição era resultado de uma decisão política que tinha preferência pelos ricos.
Os grupos escolares do governo do estado, ficavam nas vias principais dos bairros da cidade.Assim essa população expulsa para a periferia das periferias (morros, córregos e encostas), não tinha uma escola nas suas comunidades, bem como, tinha dificuldades para entrar nas escolas de bairro e era comum, que quando não se adequavam à essas escolas eram expulsos das mesmas. Esse fato explica a preocupação de Anita Paes Barreto, com o fato de 50% dessa população estar fora da escola e portanto, condenada a miséria ou a viver com  salários baixíssimos.
Em 1950, surgiu o MCP e recebeu o apoio do prefeito Pelópidas Silveira,quando o movimento ainda não estava institucionalizado.
Segundo Barbosa, o MCP foi um movimento social instituído, por intelectuais que objetivava pensar junto com o povo e elaborar ideias filosóficas a partir da arte, fundamentando-se nas raízes da cultura popular. Ele trouxe mudanças significativas nas condições da população e transformaçâo na cultura popular.

REFERÊNCIAS
BARBOSA.Letícia Rameh. Movimento de Cultura Popular:Impactos na Sociedade Pernambucana.Recife:Liceu.2010.
KOURIH. Jussara Rocha. História do Recife.Recife:Bagaço Design.2012.
SANTANA.Jair Gomes de.REZENDE.Antônio Paulo (Coord) Recife: 100 anos de Escola Pública Municipal.Recife:Departamento de Capacitação Profissional.2000.

segunda-feira, 2 de abril de 2018


O MOVIMENTO E AS ORGANIZAÇÕES DE CARÁTER OPERÁRIO

Resultado de imagem para greve de 1917

O movimento dos trabalhadores urbanos foi, em quase todos os países, resultante do aparecimento de indústrias, ou seja, de transferência do trabalho da área artesanal, quase sempre de âmbito familiar ou de grupos organizados, (...), para as fábricas, com o domínio e posse dos instrumentos de produção por um nascente capitalismo.
No Brasil, não poderia ser diferente. O sistema escravocrata, sustentado pelo Império, retardaria imensamente não só o aparecimento das exportações industriais entre nós como das próprias organizações operárias de caráter mais combativo.
Um relatório lido (por Rosendo dos Santos, Secretário Geral) no II Congresso Operário Nacional (1913, no Rio de Janeiro), traz uma lúcida interpretação desse fenômeno. Assim, menciona aquele humilde relator que a organização operária no Brasil muito deve, assim, às ideias anarquistas introduzidas, sobretudo por imigrantes europeus, espanhóis, portugueses e, por último, italianos. Como essa organização é decorrência de desenvolvimento industrial, não há que se pretender pudesse Pernambuco ter uma participação maior nesse assunto, provado que a sua indústria urbana era muito débil no princípio do século (XX). Cabe, porém, ao sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande (do Sul) – não só a iniciativa como a liderança dos primeiros movimentos naquele sentido. E ao Distrito Federal,(...), também dos primeiros Congressos Operários, embora muitas vezes dividisse com o Estado do Rio as “démarches” para esses encontros.
De qualquer forma, só a partir da presença em Pernambuco do sindicalista e líder operário José Elias, natural de nosso estado, mas radicado no Rio, é que começou realmente uma fase de organização e a formação de diversas associações, com uma política de resistência e de reivindicações de caráter econômico, cujas diretivas eram originárias dos I e II Congresso Operário, de 1906 e 1913, mas cujos ecos somente nos atingiram, de forma efetiva, através da ação consciente daquele extraordinário homem que foi, sem dúvida, uma das grandes figuras saídas da massa operária para a luta em favor dos seus humildes companheiros.
O II Congresso Operário aprovou resolução com o intuito de dar maior desenvolvimento às organizações nos estados. E, nele, Pernambuco não contou com um só representante. Creio ter sido esse fato que fez a Confederação Operária Nacional enviar ao Recife o líder sindicalista, e já notável orador de massas, José Elias.
Cristiano Cordeiro,(...), assim se refere à viagem do líder sindicalista:(...) “Apresentando-me como um estudante interessado, acompanhei todos os passos de José Elias. Assisti, pois, com essa credencial, à transformação das antigas “uniões e sociedades de beneficência” em sindicatos, em órgãos de luta pela conquista dos novos “direitos do homem trabalhador”.
“A União dos Estivadores foi a primeira. Cito, com reverência, o nome de Eufrosino Carneiro, justamente acatado entre os seus camaradas. Seguiram-se os Sindicatos de Armazéns, Trapiches e Cargas (“Resistência”), Carvoeiros, Construção Civil, os da Vanguarda. (...) Criada a Federação das Classes Trabalhadoras, a ela se associaram, sucessivamente, outros sindicatos: Tecelões, Metalúrgicos,Padeiros, Marceneiros, Gráficos, Transportes Urbanos, Ferroviários, etc.
Já então acreditado como militante voluntário, tomei parte na elaboração dos estatutos de várias dessas entidades”

Autor: Barros, Souza
Livro: A Década de 20 em Pernambuco.
Editora: Fundação de Cultura Cidade do Recife-PCR
Local: Recife.
Ano: 1985, páginas: 75,76,77 e 78.
Biblioteca Estadual: Coleção Pernambucana.

Vocabulário:

Trabalho artesanal: trabalho manual feito com ferramentas, nele o artesão faz todas as etapas do processo produtivo, utilizando matérias primas naturais.
Capitalismo: o capitalismo é um sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como objeto de troca. Para o capitalismo existir é preciso que a propriedade esteja concentrada nas mãos de uma classe social (a burguesia), e que haja uma outra classe que venda a sua força de trabalho, para sobreviver (os operários).
Ideias anarquistas: defendem que a sociedade não precisa ter um governo, isto é, uma instituição que exerça o poder sobre todos. Anarquia vem do grego anarkei (que significa, sem governo). Anarquia não tem relação com baderna ou bagunça, em uma sociedade anarquista as pessoas seriam tão organizadas e éticas que iriam ao trabalho ou á escola, cumpririam com suas obrigações sem precisar de uma instituição que lhes obrigasse a fazer coisa alguma. Características do anarquismo (segundo Pierre J. Proudhon): o fim do Estado,a organização da sociedade em pequenos grupos sob o regime de autogestão, isto é, as pessoas que formam o grupo criam as suas próprias leis, estabelecimento de uma sociedade sem classes (formada por pessoas livres e iguais), fim das forças armadas e da polícia, eliminação das leis gerais e dos tribunais de justiça, eliminação de todos os partidos políticos.




segunda-feira, 12 de março de 2018

O RONCO DO MARIBONDO(1852)


Em 1850, foi proibido o tráfico internacional de escravos (da África para o Brasil), restou o tráfico interprovincial (aquele que levava escravos das regiões que perdiam a sua vantagem econômica (o atual Nordeste, para as novas regiões mais dinâmicas economicamente (São Paulo).
O ronco do maribondo ou da abelha, foi uma revolta à tentativa do governo imperial de realizar um censo populacional e fazer o registro de nascimento e óbito: essas funções eram realizadas pela Igreja Católica. As pessoas passavam a existir quando eram batizadas pela Igreja, que também atestava a sua morte. Através do decreto 797 e 798 de 18/07/1851 essas funções seriam assumidas pelo governo, isto é, sairia da esfera religiosa para a civil.
A população negra livre e pobre (que se dedicava a atividades de subsistência, trocas ou pequeno comércio), ao saber do decreto, temeu que o governo pretendesse escravizar negros e mestiços livres. Eles percebiam que a sua liberdade era precária, pois "pessoas negras eram frequentemente sequestradas, principalmente crianças, eram vendidas a traficantes que as exportavam para o sul [São Paulo], e por lá elas se perdiam para sempre de suas famílias"[1], além disso negros livres deviam andar com sua carta de alforria para provar que eram livres ou poderiam ser acusados de ser escravos fujões.
Em Pernambuco, o centro da revolta eram as paróquias de Pau d’Alho e Nazaré, onde surgiram os boatos da insurreição escrava que levaram à prisão de Rufino. Durante o Ronco do Maribondo, as autoridades tiveram de correr perseguidas por uma multidão de 600 a 700 pessoas, de acordo com o presidente da província de Pernambuco.
Para acabar com o movimento foi necessário usar mais do que a força, como não havia ainda rádio, nem televisão, um  grande  grupo formado por padres e missionários foi usado para convencer a “gente de cor” de que a notícia da escravização de negros e mestiços livres era falsa.


[1] : REIS. João José. GOMES. Flávio dos Santos.CARVALHO.Marcus J.M. de. O Alufá Rufino:Tráfico, Escravidão e Liberdade no Atlântico Negro (1822-1853).São Paulo:Companhia das Letras.2010,p.321.




quinta-feira, 8 de março de 2018

O ALUFÁ RUFINO: MOVIMENTOS SOCIAIS NO SÉCULO XIX


DOCUMENTO 2
No Diário de [Pernambuco] de hoje [25 de setembro de 1853] se lê um ofício do presidente remetendo ao nosso diocesano o auto de perguntas feito pela polícia ao preto de que lhe falei na semana passada, para que S. Ex. Revmo. dê seu parecer sobre a parte religiosa. (...) o preto Rufino está na órbita da Constituição, que prescreve a tolerância religiosa. E o que é verdade é que ele tem lá o seu culto, em sua casa particular, sem forma exterior de templo.

O ALUFÁ

Alguns atos de de insubordinação praticados pelos escravos de dois engenhos, e os boatos aterradores que se espalharam a tal respeito por toda parte, puseram em grande atividade a polícia desta capital [Recife], no dia 3 de setembro, véspera de um Domingo, em que se dizia ter lugar uma insurreição.
Por causa desses boatos foram varejadas nesta cidade mais de cinquenta casas de negros da Costa livres. Em todas elas a polícia nada mais observou do que uma perfeita tranquilidade, a demonstração do gênio tranquilo dos seus habitadores, e alguns ídolos insignificantes, exemplo das superstições africanas. Em casa, porém, do preto Rufino José Maria, o achado de alguns livros e papéis, escritos em caracteres desconhecidos, motivou a sua prisão.
Fonte: REIS.João José.GOMES. Flávio dos Santos.CARVALHO.Marcus J.M. de. O Alufá Rufino:Tráfico, Escravidão e Liberdade no Atlântico Negro (1822-1853).São Paulo:Companhia das Letras.2010


PERNAMBUCO: MOVIMENTOS SOCIAIS NO SÉCULO XIX

No final do século XVIII, com a crise do sistema colonial ocorreram rebeliões, insurreições, revoltas, conspirações, motins, distúrbios e quilombos. Apesar da história oficial só registrar movimentos organizados por componentes das elites, a população livre pobre, mestiça e os escravos tiveram uma participação importante  nesses movimentos: "O movimento das elites, entretanto, evitava questões como o fim da escravidão e dispensava a participação popular, temendo a generalização da revolta",(REZENDE, Antônio Paulo, O Recife:Histórias de uma cidade,Recife:Fundação de Cultura Cidade do Recife,2005,p.64).
Segundo Maria da Glória Marcondes Gohn, (Teoria dos Movimentos Sociais,p.12), os movimentos sociais transitam, fluem e acontecem em espaços não consolidados das estruturas e organizações sociais; e na maioria das vezes, questionam as estruturas sociais e propõem novas formas de organização  política.
Para Claudete Maria Miranda Dias (Movimentos Sociais do Séc.XIX:história e historiografia.2003),esses movimentos propunham: o rompimento do pacto colonial, o fim da escravidão e do monopólio da terra,o estabelecimento de uma república federativa, o direito a cidadania e acabar com a dominação portuguesa.
O Nordeste brasileiro, sofreu uma crise (social, política e econômica) com a transferência do eixo econômico para o Sudeste,  que gerou o aparecimento de manifestações sociais de vários setores da população. Pernambuco concentrou o maior número desses movimentos sociais, destacando os que fazem parte da história oficial (Conspiração dos Suassuna (1801), Revolução de 1817, Confederação do Equador(1824), a Cabanada (1832-35), a Revolução Praieira (1848). Mas não é só a crise econômica que explica tudo, o Seminário de Olinda (1801), contribuiu para a efervescência das ideias liberais vindas da Europa. Segundo Rezende (2005), muitos participantes dos movimentos de rebeldia foram alunos ou professores do Seminário.

terça-feira, 6 de março de 2018

DOCUMENTOS: MOVIMENTOS SOCIAIS EM PERNAMBUCO, SÉCULO XIX

DOCUMENTO 1
Entretanto por causa desse tratante [Rufino] andou esta cidade [Recife] em sustos, porque espalhou-se geralmente que uma insurreição estava premeditada; e ainda hoje estes receios não estão de todo desvanecidos, porque na roça alguns escravos têm estado algum tanto desobedientes, sendo que tem sido de mister proporcionar-lhes castigos fortes. Fragmento de texto publicado pelo jornalista  do Correio Mercantil do Rio de Janeiro em 1840.

Vocabulário
Alufá- é um sacerdote islâmico e mestre-escola
Tratante- trapaceiro
Insurreição - ocorre quando um grupo de pessoas luta contra o poder estabelecido
Desvanecidos - apagados,desfeitos
Mister- necessário