ARRECIFE DOS NAVIOS



Metade roubada ao mar, metade a imaginação, esta planície aluviônica, onde está situada a cidade do Recife, há milhões de anos passados, era uma imensa baía ocupada pelo oceano Atlântico e rodeada por colinas terciárias, que se estendiam de Olinda até o Cabo de Santo Agostinho. Os constantes despejos de terras de aluvião pelos rios Beberibe, Capibaribe, Tejipió, Jaboatão, Pirapama e outros menores surgidos em épocas mais recentes, bem como o abaixamento do nível do mar e o aparecimento da faixa de arrecifes foram formando esta planície, que cresce até os nossos dias, com os constantes aterros de manguezais e pequenos cursos de água feitos pelo homem.

                A povoação de Pernambuco teve seu início efetivo quando da doação da capitania a Duarte Coelho Pereira pelo Rei Dom João III, em 10 de março de 1534. Duarte Coelho aportou no sítio dos marcos ( Itamaracá ), em 09 de março do ano seguinte, fazendo-se acompanhar de sua mulher, D. Brites de Albuquerque, e alguns colonos de nobre estirpe.

                Duarte Coelho Pereira estabeleceu a sede de sua capitania por volta de 1536, em Olinda, de onde veio a governar seus domínios. Não tendo porto de mar, a primitiva vila de Olinda passou a se servir do ancoradouro natural do Arrecife Dos Navios, vindo daí o primeiro nome da cidade.

                Na carta Foral conferida à câmara de Olinda em 12 de março de 1537, Duarte Coelho se refere textualmente “Ribeira do Mar dos Arrecifes dos Navios”, como menção certa ao Recife. E esta no dizer do historiador José Antônio Gonçalves de Mello, a mais antiga referência ao princípio muito humilde da nossa cidade.

                O “Arrecife” foi crescendo de importância à medida que foram aparecendo os engenhos de açúcar na várzea do Capibaribe e, em 1551, por este era exportada a produção, segundo carta de Duarte Coelho a El Rei de Portugal, de “Cinco Engenhos Correntes E Montes”.

                Com o movimento do ancoradouro, foi surgindo a povoação do povo dos Arrecifes, que tinha como padroeiro São Frei Pedro Gonçalves, de quem os mareantes eram devotos, cuja ermida era conhecida por Corpo Santo e São Telmo.

                Em 1561, o povo dos Arrecifes, que recebia anualmente 45 navios carregados de mercadorias e daqui levavam o precioso açúcar, pau-brasil e outras especiarias, é objeto da cobiça dos franceses que, expulsos do Rio de Janeiro por Mem de Sá, aqui aportaram. Coube ao segundo donatário, Duarte Coelho de Albuquerque, expulsá-los com regular número de combatentes que vieram de Olinda lutar no Recife.

                A povoação estava restrita às terras do hoje bairro portuário, quando em 1606, os franciscanos fizeram erguer na atual ilha de Santo Antônio – então denominada de Marcos André e primitivamente de porto dos navios – um convento sob a invocação daquele santo, que é hoje o padroeiro da cidade.

                O suporte econômico instituído por Duarte Coelho Pereira, que ainda permanece até os nossos dias, permitia a capitania uma vida de opulência, graças aos altos preços alcançados pelo açúcar no mercado internacional.

Origem do texto:
               
                Autor : SILVA, Leonardo Dantas
                Título : Recife uma história de quatro séculos
                Local da edição : Recife
                Editora : Prefeitura da Cidade do Recife
                Ano da edição : 1975
                Páginas : 17 – 20
                Acervo : Biblioteca Pública Estadual de Pernambuco ( Coleção Pernambucana )





Vocabulário



Ribeira: lugar baixo à beira do rio.
Mareantes: pescadores.
Invocação: o convento recebeu a invocação, o nome do santo, no caso santo Antônio.
Suporte econômico
: o autor se refere a cana de açúcar.
Opulência: riqueza, luxo.
Planície: grande porção de terreno plano.
Planície Aluviônica: planície formada pelos depósitos carregados pelos cursos de água.
Aluvião: depósito de cascalho, areia e argila que se forma junto às margens ou à foz dos rios,                              como resultado da erosão provocada pelas chuvas ou enchentes.
Arrecifes: formação rochosa dentro do mar que retém as ondas, muito comum no litoral nordestino.
Capitania: capitanias hereditárias (1534 – 1759) – sistema instituído pelo rei d. João III, através do qual a coroa repassava à iniciativa privada o trabalho e os custos de promover a colonização e defender as terras brasileiras.  Os donatários receberiam alguns direitos, como a doação de sesmarias, a arrecadação de dízimos e a fundação de vilas e povoados.
Carta Foral: era um conjunto de documentos, no qual se encontravam os dados relativos à doação. Citavam a localização e as medidas, os direitos e os deveres do donatário.
Ancoradouro : lugar próprio para os navios atracarem com razoável segurança contra o mau tempo.



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